27.12.04

2ª FEIRA, 27 DE DEZEMBRO DE 2004

Passada a azáfama do Natal, volto às lides da escrita.
Neste momento estou a reunir material (fotos, histórias, etc) sobre a Maiá, que, sem dúvida merece figurar neste registo. O tio Francisco enviou-me uma foto mas estou à espera de receber mais alguma coisa para que este "assunto" não fique muito disperso...
Entretanto o tio Miguel enviou-me esta história sobre a Avó Maria, a qual partilho com todos voçês.
Beijos e abraços a todos (especialmente nesta época para aqueles que estão mais longe).
Bão.
Olá a todos! Depois de muito pensar, decidi-me escrever-vos uma história sobre a Avó Maria. Dizem os Tios mais velhos – a Tia Maria João, por exemplo – que o Avô Pedro era uma pessoa muito divertida, cheio de bom humor, e que nós saímos, nesse aspecto, a ele. Ora bem, com esta história, vão ver que a Avó, afinal, não lhe ficou seguramente atrás.
Há alguns anos, já nós estávamos todos casados e com filhos, a Avó foi passar umas férias a casa da sua grande amiga Lynn, aos Estados Unidos, penso que perto de S. Francisco. Supostamente iria por um mês mas, se bem me lembro acabou por ficar mais tempo, o que nos fez estranhar. Mas lá voltou e, no dia em que voltou, (ou no dia seguinte), fizemos, como sempre fazemos, uma jantarada em Alcântara. Já perto do fim do jantar – julgo que estávamos a beber o café – a Tia Isabel – quem mais havia de ser? – disparou, certeira:
Então, Maria Torre, porque é que vieste mais tarde? Houve mouro na costa?
E, para nosso espanto, a Avó não negou, não se espantou, e a sua cara iluminou-se com um sorriso, no mínimo estranho. Repentinamente, levantou-se da mesa e, com um “Já venho”, desapareceu da casa de jantar. Voltou pouco depois, e trazia ao pescoço um faiscante colar e, na cara, mantinha aquele sorriso que me pareceu quase juvenil. As interjeições sucederam-se: Ah! Oh! O que é isso? É de diamantes, (Tia Isabel)? Mãe!!!
A avó sentou-se no seu lugar, à cabeceira, e mostrou um fulgurante colar, respondendo que sim, que era de diamantes. E começou, calmamente, como só ela sabia fazer, a falar: - Sabem, conheci, em casa da Lynn, um senhor muito simpático, americano, um homem muito rico, já reformado, que é dono de uma fábrica de barcos à vela. É um
homem interessantíssimo, que nos fez companhia durante todo o tempo em que lá estive e que me ofereceu este anel.
Logo alguém perguntou, ingenuamente, porquê – talvez tenha sido eu – e a Avó, sempre com um sorriso de menina adolescente, respondeu, sem hesitar:
- Então, porque sim!Foi o espanto e a admiração geral! Entre interjeições, sorrisos em caras sérias, via-se de tudo à volta daquela mesa. A Avó, então, disparou: - Esperem aí! Levantou-se da mesa e voltou, pouco depois, exibindo uma pulseira, igualmente de diamantes, que faiscava por toda a mesa: - Também me ofereceu isto! Disse a Avó, entre divertida e lisonjeada, pelo menos mostrando que aquele objecto lhe dava um enorme prazer. As interjeições, sempre de espanto, continuavam, e poucos eram os que, naquela altura conseguiam dizer qualquer frase com nexo. Então, e mais uma vez, a Avó levantou-se da mesa: Esperam aí, que já venho! E, quando voltou, trazia no dedo anelar o anel mais espantoso que eu já vi. Semelhante ao colar e à pulseira e, por isso, também de diamantes, era qualquer coisa de extraordinário: - Mas porquê? Perguntou um de nós. O sorriso da Avó Maria era, agora, retumbante. E respondeu: Então! Quer casar comigo. Pediu-me em casamento, e eu disse que sim! Olhei à volta da mesa: a Tia Maria João estava estarrecida, a Tia Isabel estava sorridente, a Tia Catarina tinha a cabeça na mesa, escondida entre os braços e chorava, os restantes tios estavam algo sorumbáticos, entre o incrédulo e o preocupado, o tio Francisco e eu aprovávamos. Lembro-me de ter perguntado: Então, se a mãe vai casar com ele, e ele vive na América, como é que vai fazer? Vai viver para lá? E a Avó, categórica: Já está tudo combinado, vivemos seis meses lá e seis meses cá! Foi então que o telefone tocou. Era o Tio António, que ligava do Brasil. Falou primeiro com o Gonçalo, que estava lá a jantar, e depois falou com
alguns de nós. Lembro-me bem da conversa que tive com ele: António, o que é isto? E ele, de imediato, como que a confirmar: Não é extraordinário? O tipo é impecável, já o conheci e gosto imenso dele.
A esta altura já estávamos todos convencidos do inevitável: a avó ia casar. Foi então que aconteceu o mais divertido. Depois de desligar o telefone, a avó virou-se para todos e, a rir a bandeiras despregadas, disse que era tudo mentira. Foi então que poucos acreditaram nela. A avó teve que explicar que as jóias eram todas de vidro e que, depois de ela e a Lynn as terem visto numa montra, compraram-nas, engendrando toda esta história, com a cumplicidade do Tio António que também lá estava. Devo dizer-vos que, sempre que me lembro desta história rio-me às gargalhadas, e revejo a cena extraordinária daquele jantar. Também era assim, a Avó Maria!
Muitos beijos para todos! E divirtam-se! Muito!
Lisboa, aos 24 de Dezembro de 2004.
Um bem haja ao Tio Miguel por esta contribuição.
Bão.