21.1.05

6ª FEIRA, 21 DE JANEIRO DE 2005

A prima Meg mandou finalmente qualquer coisa...
Aos avillezes.net
19/01/05



from: margot1@iol.pt
to: Sebastião P <baomailbox@walla.com

Meus queridos TODOS:

Depois de tanta ilustre mensagem aqui depositada, toca-me hoje a vez.
Devo confessar que já tive uma primeira tentativa gorada, nos tempos do clandestINO, mas precisamente quando rematava as "difíceis" rimas de uns versos variados na terminação "ino" e "ão", o nosso SebastiÃO decidiu transitá-lo para esta designaçÃO e para que tudo terminasse em "ez" lá tinha que começar tudo outra vEZ... 'tÃo a ver o que nÃo perderAM?...
Bom, palhaçadas àparte, esta mensagem segue a linha da do Tio Miguel e relança o repto de fazer daqui um meio de ACTUALIDADE, além das importantíssimas
referências ao nosso muito querido passado. Bebemos de tudo o que está para
trás para sermos quem agora somos, mas com tanta evocação corremos o risco de o presente nos passar ao lado, sobretudo numa fase de vida em que a família, os
filhos e a profissão não permitem encontros mais que, com sorte, mensais.
Afinal de contas, o que por aí se passa? Há rebentos anunciados (e desta vez vêm
aos pares!!), uma amazona que dá cartas na paixão pelos cavalos (além de que é
a única seguidora do Avô Pedro, um orgulho para todos nós!), um mestre da
bella-pizza, uma surfista radical, um homem de malas feitas para o Porto, uma
mulher Convocada para África (e se vai bem! Diz que alguém a viu ontem em artes
de palco, o tom africano cumpriu-se, só não se lhe viu a carapinha)...
Pois para tudo isto bem explicado e para mais, MUITO MAIS toca a pôr aqui as
NOVIDADES que o povo é sereno mas gosta é disto: de Saber! E se for um saber
ilustrado por fotos... tanto melhor!
Um grande beijinho a TODOS e... vá lá ver!
Meg
Meg, é assim mêmo. O pessoal tem é de contribuir.
Beijinhos.
Bão.

UM PACTO DE SANGUE
Em Julho de 1946, após três anos de ocupação japonesa, chegavam a Díli os membros da nova administração portuguesa em Timor-Leste. Entre eles, encontrava-se Ruy Cinatti, agrónomo, poeta, coleccionador de plantas e de aventuras. Uma vida cativante cujas marcas dificilmente serão apagadas pelo tempo.
TEXTO DE ROSÁRIO SÁ COUTINHO
National Geographic Ed. Portuguesa Agosto 2001
Em Dezembro de 1941, a longínqua colónia portuguesa de Timor-Leste vê-se arrastada para o palco da Segunda Guerra Mundial.
Temendo o avanço dos japoneses no Sudoeste asiático, tropas holandesas e australianas ocupam aquele território, indiferentes aos protestos do governo português, cuja neutralidade ficava assim posta em causa.
Portugal prepara-se para enviar militares portugueses para substituir as forças aliadas, mas os japoneses invadem a colónia em 1942.
A capitulação do Japão, em Agosto de 1945, devolve a Portugal a administração do território e, quando chega o convite para integrar os quadros do novo governo de Timor-Leste, Ruy Cinatti não pensa duas vezes.
Como se depreende das palavras do padre Peter Stilwell, cuja tese de doutoramento - "A Condição Humana em Ruy Cinatti" - se debruça sobre a vida e obra do poeta, o gosto pela aventura vinha-lhe de longe.
É pelos excertos dos diários, dos poemas e das cartas de Cinatti - recolhidos pelo padre Stilwell no seu trabalho - que seguimos o percurso deste homem invulgar, personalidade "fascinante" e "uma vida e obra de vulto no panorama da cultura portuguesa contemporânea".
Depois de uma infância marcada pela morte da mãe e pelo desentendimento com o pai, surge, em 1935, a oportunidade de realizar um dos seus grandes sonhos: um cruzeiro de férias às colónias, organizado pela revista "O Mundo Português".
A bordo do paquete "Moçambique", parte na sua primeira grande aventura.
De regresso, publica, ainda nos anos 30, alguns textos em jornais e escreve uma pequena obra-prima - o conto do "Ossobó", sobre este pássaro que anuncia as chuvas na ilha do Príncipe.
Em 1940, lança, com Tomas Kinz e José Blanc de Portugal. a primeira série dos "Cadernos de Poesia" e, pouco depois, por sua conta e risco, edita a revista "Aventura".
Quando menos esperava, no termo da Segunda Guerra Mundial, recebe um convite para seretário e chefe de gabinete do capitão Óscar Ruas, governador de Timor.
É um Timor devastado que Ruy Cinatti encontra em Julho de 1946.
Os japoneses tinham arrasado todos os edifícios e sabotado as infra-estruturas principais.
Iniciava-se o lento trabalho de reconstrução. Cinatti acompanha o Governador nas viagens de reconhecimento pela ilha. Porém, cedo se vê relegado a meras funções de gabinete.
Apesar da frustração, aproveita os tempos livres em expedições pela ilha, recolhendo espécimes da flora local e dados para a sua tese de licenciatura em Agronomia.
É durante esta primeira estada em Timor que o poeta identifica duas árvores até aí desconhecidas, a Podocarpus imbricata e o Eucalyptus cinattiensis.
As incursões pelo território trazem-lhe também um conhecimento directo e uma admiração profunda pelos timorenses.
Deixam de ser meros "figurantes" num cenário exótico e trava com eles grandes amizades.
É nesse período que Ruy Cinatti se apercebe das injustiças cometidas pelos novos quadros administrativos do território.
Sem papas na língua, não se coíbe de criticar severamente certas práticas a que hoje chamaríamos violações básicas dos direitos humanos, e que ferem a sua sensibilidade de homem e de cristão.
Dividido entre a vontade de se dedicar às suas pesquisas naquela "ilha perdida de mistérios densa" e as desgastantes tarefas burocráticas, sofre um esgotamento nervoso.
Aliviado do trabalho de secretária, encontramo-lo professor do liceu em Díli, incumbido de fazer um estudo sistemático das potencialidades económicas do território.
É convicção sua que o desenvolvimento equilibrado da colónia deve assentar em estudos científicos que norteiem a acção, mas, com o tempo, consolida-se também nele a perspectiva de que uma evolução sustentada requer a integração - e não a ruptura - desse desnvolvimento com a cultura milenar de Timor. A administração, porém, não pensa assim.
Preocupado com a saúde da avó, regressa a Lisboa em 1947, com os resultados dos trabalhos de campo.
Três anos depois, apresenta como tese de licenciatura no Instituto Superior de Agronomia um estudo exaustivo sobre as formações florestais em Timor e obtém a classificação de 19 valores.
Mas Lisboa aborrece-o e, em 1951, regressa a Timor como chefe dos serviços de agricultura do governo de Serpa Rosa. Lá, experimenta de novo a frustração do trabalho burocrático, mas assume-se agora como acérrimo defensor dos timorenses e do património natural e cultural daquela região.
Insurge-se contra a proibição do uso da lipa - o pano tradicional que os timorenses usavam à volta da cintura - e contra o abate de árvores na capital. " A minha vida aqui é uma luta constante contra toda a espécie de imbecilidade governamental", escreverá mais tarde a um amigo.
A partir de 1957, estuda antropologia cultural em Oxford e prepara um doutoramento sobre Timor, que visita ainda em mais três ocasiões: em 1958; de 1961 a 1962 - altura em que estabelece um pacto de sangue com membros de famílias nobres locais - e, por último, em 1966.
Em 1991, o mundo inteiro assistiu pela televisão, ao massacre de Díli.
O pequeno país do Pacífico ganhou finalmente o precioso tempo de antena que reclamava perante a comunidade internacional.
Desencadeou-se um processo irreversível que culminou com a independência do território, dominado pela Indonésia desde 1975.
O trabalho científico de Ruy Cinatti no território veio ganhar assim uma nova actualidade.
Apaixonado por Timor, que o prendeu "com cadeias de ferro", Cinatti deixou importantes trabalhos de etnologia, antropologia, botânica, agronomia e arquitectura, bem como sobre a arte e os costumes dos timorenses.
Publicou, entre outros livros, "Esboço Histórico do Sândalo no Timor Português" (1950), "Explorações Botânicas em Timor" (1950), "O Livro do Nómada Meu Amigo" (1958), "Uma Sequência Timorense" (1970), "Paisagens Timorenses com Vultos" (1974), "Manhã Imensa" (1984) e "Um Cancioneiro para Timor" (1996).
Os frutos da sua dedicação revelar-se-ão proficuos no futuro, constituindo um valioso contributo para a construção do novo país.
Cópia integral por Sebastião Pessanha - 21 de Janeiro de 2005

A fotografia e a ilustração que estão em baixo fazem parte da secção Ruy Cinatti, trazida a lume pela Maria do Tio João. A minha Mãe também mandou um artigo que já foi publicado. Segue-se este e-mail do Tio Francisco que já tinha sido enviado há uns dias, apenas não tinha sido publicado pois continha fotos que estavam à espera do melhor momento para as dar a conhecer a todos.
Cá vai:
from: xicoavillez@netc.pt
to: avillez@walla.com

Queridos familiares, bloguers and sisters:
Do Ruy Cinatti posso dizer-vos que saíu um artigo no National Gegraphic - edição portuguesa - de Agosto 2001, a propósito da Indonésia. Fiz cópia digitalizada das sete páginas que mando ao Bão - vê se consegues incluir uns links no blogue, para que se possam lê-las! O Ruy Cinatti era um amigo da casa como havia outros mas ficavam por aqui as semelhanças com esses outros... não era tio, não era formal nem tinha maneiras próprias de tio, falava de coisas diferentes de toda a gente que conhecíamos. Ficávamos quase sempre fascinados - pelo menos, divertidos - quando ele se levantava da mesa, a meio do jantar, entusiasmado com a conversa, para acender um cigarro (guardava sempre o fósforo apagado no bolso) e, depois de uma volta à mesa já estava meio despenteado. Tanto quanto me lembro pouco percebi do que ele dizia mas fascinava-me o que via.
Frncscº
P.S.: Vai cópia para o João, manda-a para a tua filha Maria.
Tio:
Fui ao site da National Geographic (Portugal) e na secção de números antigos consultei a edição de Agosto de 2001 onde de facto vinha esta reportagem. Acontece que o que vi era apenas uma amostra do artigo, pelo que não se consegue ter acesso à sua totalidade, para tal temos de comprar a revista. Se o artigo estivesse na íntegra era só fazer um link e já estava.
Assim apenas publiquei as fotos que estavam inteiras e transcrevi, em cima, a totalidade do artigo, para que todos o possam ler. Deu algum trabalho mas mereceu a pena.
De qualquer forma obrigado pela sua ajuda. Tem sido fundamental.
Um abraço.
Bão.
Um recado à minha Mãe (e a todos): a Maria do tio João fez um comentário à sua contribuição sobre o Ruy Cinatti. Basta ver o seu artigo e no fim apareçe 1 comments. É só clicar para ver.
Bão.








Ruy Cinatti 1
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Ilustração


Ruy Cinatti 2
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Timor