17.12.04

SEXTA-FEIRA, 17 DE DEZEMBRO DE 2004

from: Pedro.Pessanha@universalmccann.com
to: avillez@walla.com

Olá Família:

Mais importante que o Padre Marim, de quem eu gosto muito, é a Maiá, “a nossa Maiá”, cuja homenagem é mais que merecida.
Fotos da Maiá, histórias da Maiá, a própria Maiá na net, qualquer coisa, mas temos de tratar disto rapidamente.
Bjs e abraços,

Pedro
UM CONTO DE NATAL
Este e-mail do Pedro serve para iniciar a crónica de hoje. O Natal está mesmo à porta, e mais uma vez estaremos todos juntos, como seriam decerto os desejos da Avó Maria e do Tio Manel. E de todos nós.
O nosso espírito de Natal manteve-se graças à generosidade do Tio Vasco a quem se agradece e muito. É nossa obrigação fazer passar aos mais pequenos aquilo que se vivia em Alcântara.
Nessa altura, e era normal, aos mais pequenos apenas interessava a hora em que se abria a porta da sala e ver aquele mar de presentes. Mal se podiam pôr os pés nos chão. Ao longo dos anos demarcaram-se territórios próprios de cada "Tio" e da sua família, onde eram deixados os presentes a oferecer aos outros.
À entrada, do lado direito, julgo que era o Tio Manel. Logo a seguir acho que ficava a Tia Teresa da Alemanha, o Tio Axel e os primos (quando cá estavam) e no primeiro sofá sentava-se a Tia Marianne ou o Tio Vasco e os primos ficavam logo ali. Vinha depois a Tia Maria João, a minha Mãe e a Tia Catrina. Continuando a volta, seguia-se o Tio joão. No sofá grande ficavam o Tio Francisco e o Tio Miguel.
A Avó andava de família em família dando (e recebendo) beijos e presentes.
E tudo isto foi acontecendo ao longo dos anos sem que ninguém tivesse imposto nenhuma regra. Ou foi o Tio Vasco que afinal decidiu tudo...?
Penso que a única regra que existia era não deixar papéis no chão, a pedido do Tio Manel.
Esta cerimónia era sempre precedida pela tradicional Missa do Galo. Grande parte dos mais pequenos dormia uma sesta para estarem bem acordados quando abrissem os presentes.
Cada um ia com os seus Pais à Missa, mas houve um ano (se calhar mais do que um) em que todos os primos foram juntos a pé, o que nessa altura significava uma certa maturidade e independência. Estávamos a crescer, era o que era...
Creio que a partir de certa altura, nos bancos da igreja também haviam "lugares marcados" para os Avillezes. Ninguém se sentava naquela zona. Era nossa.
Lembro-me do fabuloso "coiro" de vozes composto por 3 velhinhas. Antes da Missa ensaiavam um pouco e debatiam-se por mostrarem aos fiéis qual delas liderava o grupo.
Tudo isso se repetia ano após ano.
A seguir à Missa voltávamos para casa da Avó, e à medida que se subiam aqueles degraus ia-se sentido o cheiro do cacau e dos brioches que ainda tinham que esperar mais uma hora antes de cumprirem o seu papel.
Quando todos os presentes eram finalmente abertos e o respectivo papel posto no lixo, dava-se início à Ceia de Natal. Além do cacau e dos brioches (não abandonem esta tradição!!!), lembro-me das carnes frias, pão-de-forma, etc...
Para sobremesa, a bavaroise de ananás, sonhos de natal e a tarte da Tia Fernanda. De certeza que havia muito mais para comer, mas é do que me lembro melhor.
E lembro-me também que no dia seguinte acordava a pensar naquilo que não tinha conseguido comer na noite anterior.
Mas deixem-me voltar ao e-mail do Pedro. A Maiá.
A Maiá que passava todo o ano em casa da Avó, tinha um quarto em Cascais, ia connosco para a praia no Verão, contava-nos tantas histórias (inventadas por ela e às vezes sobre os tios) e nunca tinha passado um Natal connosco. Pelo menos que eu me lembre. Não podia aceitar este facto.
Todos os anos lhe perguntava se naquele Natal ia estar em Alcântara, ao que sempre me respondia que "não podia". Que traição, Dona Maiá!!!
Na inocência de criança só mais tarde realizei que até a Maiá tinha uma Mãe de quem gostava muito. E era com ela que queria estar nessa altura. Mas acredito que lhe custava muito não estar com os "seus filhos" e "netos" no Natal.
Hoje em dia, e como sempre, é mais do que merecida que se faça uma homenagem à nossa querida Maiá.
Afinal, sem a ajuda da Maiá talvez nenhum destes Natais tivesse acontecido.
Foi a Maiá quem ajudou a criar os Tios que nos puseram no mundo e que hoje escrevem sobre coisas que viveram.
A Maiá merece tudo e muito mais.
Como disse o padre Marim na missa que celebrou nos 40 anos "de casa" da Maiá: a Maiá é o sinal de Deus na nossa família. E disse tudo...
Mandem-me fotografias e histórias que tenham com a Maiá. Nenhuma ficará por publicar.
Abraços e beijinhos a todos.
Bão