17.4.06

2ª FEIRA, DIA 17 DE ABRIL DE 2006

Boas a todos!
Cá estamos a escrever mais uma página da nossa "história"!
Hoje temos notícias frescas da nossa Aninhas e do Uíje, num e-mail que enviou o Tio João e que nós todos agradecemos. Mostramos também a quem não veio o nosso almoçinho de ontem em casa do Tio Vasco.
O Tio João enviou o seguinte e-mail:
Sebastião:
Aqui te mando um emorme mail da Ana cheio de notícias.
Como ontem recebemos um CD do Uíje aproveito para juntar algumas fotografias recentes.
Como a 11 de Abril se comemoraram os 20 anos do Leigos para o Desenvolvimento, junto também uma página do livro publicado (+ 8 € com o jornal Público) com uma referência à "nossa" Ana. (Tio: a publicação dessa página torna invisível a informação. Peço que a envie por e-mail a toda a Família. Obrigado.)
Parabéns LD!
Querida famelga:
Uma vez que as cartas demoram muito a chegar, achei por bem mandar um mail cheio de novidades (embora não sejam muitas).
O Pe. Querubim disponibilizou-se para levar a mala, embora pese um bocado!
Não se esqueçam que daqui para Luanda e vice-versa, só deixam levar 15 Kg, o que complica tudo.
Lembrei-me entretanto do saco que veio pela UNICEF com os livros e gramáticas. Hoje vou lá deixar-lho e ver o que pesa menos.
Ele vai já no Sábado e não sei se vou ter tempo para vos escrever, até porque tenho muitas cartas em atraso, e com vocês ainda vou falando pelo telefone.
Esses telefonemas nunca me chegam. Parece-me sempre que falo do que se passa aqui e fico sem saber nada do que se passa aí.
A semana passada tivemos a visita da Elisa, que ficou ano e meio nesta missão. Ela tinha a “triste fuga” do marburg ainda mal resolvida e sentiu que faria sentido vir aqui nesta altura (um ano depois da partida), coincidindo com o aniversário da morte da Dra. Maria.
A Dra. Maria trabalhou cá durante dois anos para o CUAMM, tendo já passado pela Zâmbia, Etiópia, Burkhina Faso, etc, etc.
Sendo pediatra, foi das primeiras a aperceber-se de que a doença que estava a matar tantas crianças não era paludismo. Acabou ela própria por ficar contagiada, tendo ficado internada em Luanda, onde morreu e foi sepultada. A Elisa conhecia-a bem. Fez a missa no próprio hospital, cá fora, não só pela alma da Dra. Maria, mas também por todas as vítimas da epidemia e suas famílias. Foi uma missa muito comovente e muito vivida.
Ainda por cima a leitura era: “Não há maior amor do que dar a vida pelos amigos”.
A Elisa andou a rever os amigos todos e teve imensa paciência para ouvir as nossas perguntas todas sobre as comunidades anteriores e sobre a direcção.
Também foi ela (agora a trabalhar em Maputo para os jesuítas) que me contou as más notícias sobre o Tiago Galvão, a quem mandei uma enorme carta, na esperança de lhe abrir os olhos.
Ontem pudemos assistir a um eclipse parcial do sol, com a ajuda de uns óculos especais que o Pe. Manel cá tinha.
O sol ficou só com uma dentadinha, mas nunca tinha assistido a eclipse nenhum, por isso foi emocionante na mesma.
No Domingo passado fomos passear ao Songo (40 mins. de distância na melhor estrada do Uíje, seja para onde for nem queria acreditar). É uma “cidade” muito bonita e pacata. O principal meio de transporte é a bicicleta, até para doentes e sacos de 50kg de fuba (farinha).
Claro que o passeio foi com... padres! Mas divertimo-nos muito, arejámos, dançámos, uma animação.
Já começo a dar uns toques de kizomba, até porque começámos a sair de vez em quando à noite para o Cá vou! – discoteca do Miguel, um angolano cabrito (filho de pais mulatos) que também saíu na altura do Marburg e voltou agora.
Carro e vistos na mesma, nem vale a pena falar nisso, já toda a gente goza connosco! Não vos disse ainda, mas para ajudar à festa dos vistos, a directora da DEFA em Luanda – com quem a Elizabete falou sobre nós – foi suspensa há quinze dias, mais ou menos ao mesmo tempo que a tentativa de golpe de estado (não se assustem já está tudo calmo). Não houve nada, senão as pessoas em Luanda sentirem que deviam respeitar um nunca decretado recolher obrigatório. Antes que me esqueça a irmã Téré do Divino Pastor perguntou-me se vocês se podiam encarregar de comprar o bilhete Lisboa – cidade do México para a irmã que se vai embora. Ela gostava de passar o 1 de Maio no Mexico porque um sobrinho vai ser padre.
O Pe. Querubim leva o dinheiro e vocês compravam, pode ser? Ainda não sei dizer a data, porque ainda não sabe quando vai para Lisboa. Podem tratar disso ou querem que se peça a outra pessoa?
O Pe. Querubim deve levar as coisas dele na mala, por isso só vos entrega a mala e uns paninhos para as manas, quando for a Lisboa. Provavelmente vai querer falar com vocês – ele quer falar com toda a gente, mas se não houver tempo, vai de certeza ao CUPAV e pode lá deixar a tralha.
Se estiverem a pensar enviar roupa para o lar, mandem coisas pequeninas, mesmo os de 20 anos, não vestem mais de 12-14 anos, são muito pequenos e magrinhos.
Quando se aproximar Maio, iremos pedir algumas coisas concretas, mas já sei que o Helder quererá mandar coisas, por isso não se esqueçam de falar com ele. Posso pedir já CDs dos sublime (o do cão) e do Ben Harper (tudo), DVD’s giros e t-shirts, desodorizante palmolive citrus-fresh e 2 lanternas solares se encontrarem, livros bons, revistas e jornais actuais, o Effaclar gel (a Maria sabe qual é) e os terços, já é muita tralha.
Amanhã o Paulo e a Elizabete vão a N’Dalatando, aproveitando a boleia para passear. É raro haver boleias para todos, por isso vamo-nos revezando. Espero que consigamos enviar um CD de fotografias pelo Pe. Querubim, mas isto não tem estado fácil de luz.
O 1º semestre do seminário acabou agora, tivemos a corrigir exames e a dar notas. Nalgumas coisas são alunos muito fracos, mas o pior é mesmo a preguiça e a arrogância. Nunca vi, gente que sabe tão pouco a achar que sabe tanto! Bom, mas vão aprender rapidamente. Têm a mania que são filósofos (os últimos 3 anos do Seminário são um curso geral de filosofia), mas não respeitam a máxima de Sócrates: só sei que nada sei.
Para eles ser filósofos é duvidar de tudo. Acabam por ser cómicos e ficam sempre com um ar surpreendido, quando lhes dizemos qualquer coisa de completamente nova.
O Olívio (postulante dos Passionistas, que aparece nas fotografias) entrou este ano no Seminário e é aluno de nós os quatro. É muito difícil ser imparcial e não morrer de curiosidade em ler o teste dele, mas temos conseguido. Felizmente é um aluno perfeitamente normal, senão seria bem mais doloroso.
Ah! Maninhas e aos interessados, o Paulo ensinou-me que quando escrevemos no computador e ao querer corrigir uma palavra ele começa a comer letras é porque carregámos no botão insert sem querer e é só carregar outra vez, para o computador voltar ao normal. Vem uma gaja para a missão aprender estas coisas!
Uma das nossas mamãs está grávida de 5 meses. Já tínhamos desconfiado, mas como ela não se descosia, não quisemos dizer nada. Ela anda tristinha, porque descobriu que o seu amigado tem outra mulher no Puri, mas “aqui é assim”, não há nada a fazer.
Ela mesma disse que quando os “manos” saíram ela teve que encontrar outro trabalho, porque a mulher não pode ficar dependente do homem. Ele ainda a sustenta, mas quando tiver filhos da outra, pode ir viver com ela e a primeira (segunda, ou terceira) fica agarrada.
Por outro lado é ridículo porque a grande maioria dos trabalhadores (sobretudo funcionários públicos) não recebe há um ano e nalguns casos dois, logo, se não fossem as mamãs que vendem na praça, “cartam” água e vão às lavras, a grande maioria das famílias não teria nem que comer, nem que vestir.
Eu continuo mesmo sem saber se renovo, umas coisas puxam para ficar, outras para ir. Em Maio digo-vos qualquer coisa e o Pe. Luís Providência irá já com a incumbência de marcar a minha viagem, seja para Agosto ou Dezembro.
De resto continuamos bem. Para vos acalmar, não me posso esquecer de dizer que a epidemia de cólera ainda não chegou ao Uíje, e mesmo que chegasse, temos – desde que chegamos – tido todos os cuidados de higiene e saúde a ter em conta. Confesso que me enfurece, que uma doença tão controlável se tenha descontrolado.
O saneamento é uma luta constante. Mas quase inglória. As pessoas até têm o hábito de juntar o lixo, o problema é que não há caixotes do lixo nas ruas, nem sequer contentores nas praças – maior foco de lixo - e muito menos nas casas. Esgotos é piada, cada um tem a sua latrina e na melhor das hipóteses uma fossa seca, no entanto todos os dias assistimos a crianças ( e adultos ) a fazer chichi e cocó na rua.
Depois, com o que chove aqui, formam-se poças de água estagnada onde os porcos se divertem e as crianças brincam. Tudo grita doença e ninguém reage. Há comportamentos difíceis de mudar, mas é impossível sequer tentar quando se quisermos explicar que o lixo não é no chão, mas no caixote... ora bem... não há caixote.
Bom, passando à frente, a paróquia da Santa Cruz, mais conhecida cá em casa por paróquia da Santa Paciência, continua em força. A comunidade está a ajudar a escavar os cabocos e vai-se aproveitar a terra para fazer adubos. O bispo já prometeu 20 sacos de cimento, mas o Pe. Manel está sempre a dizer que não chega. Isto vai devagarinho.
De resto não há “makas” (problemas), só algumas saudades de vocês todos e do mar.
Muitos beijinhos da filha querida Ana!
Ana: não sei se tens visto o Blog, mas o teu dia a dia vai sendo seguido com muita atenção sempre que me mandam notícias tuas para publicar no Blog. As tuas actividades têm eco nos 4 cantos do Mundo... literalmente.
Estamos todos com muitas saudades tuas. Continuamos a fazer força para que aí corra tudo bem.
Beijinhos de nós todos, os Avillezes.
Aqui ficam as fotos que recebi via Tio João.